Arquitetura: Anne Marie Sumner
Equipe: Arqs. Jorge Felix, Angélica Alvim (uso e ocupação do solo), Paulo Giaquinto (legislação e ocupação urbana) Arq. Luciana Flores Martins (Sustentabilidade) Eng. José Lavrador(Saneamento) Pedro Telecki (Estrutura)
Pensar a ocupação dos mananciais teve duas questões tônicas: de um lado a instância infraestrutural do abastecimento de água da metrópole, e de outro, a regulação difícil e recente de parte considerável da ocupação originalmente irregular da área; perversa urbanização sem cidade de tantas das nossas periferias.
A nova ocupação abrigaria principalmente a população a ser removida das margens da represa, aquela instalada sobre os rios e outra em áreas de risco. Tal ocupação, na proposição espacial em questão ia além, em termos de área, do pequeno lote de 5m x 20m que dispensa a ação de escala mais amplificada do arquiteto: tais lotes poderiam contar – como em vários casos já contam – com assessorias profissionais de competência técnica que dão assistência a este tipo de construção, balizada, sobretudo por processos de mutirão e autoconstrução.
Os portos de areia espalhados pela região – muitos abandonados porque exauridos e consequentemente desativados – foram a casualidade aparentemente perversa, mas efetivamente possibilitadora para o projeto proposto; donde o tão instigante paradoxo da ocupação destas áreas. Além de constituírem glebas com áreas generosas, (a implantação do projeto-piloto encontra-se num porto de areia na região da Capela do Socorro com 33 ha de área: com essa área é possível pensar generosamente um fragmento da cidade), tem a condição inusitada das crateras resultantes da extração de areia, agora lagos no entorno das edificações propostas. Está claro que o solo teria que ser recondicionado como requer a legislação ambiental pertinente ao assunto. Aquilo que parecia uma situação abandonada, contaminada e sem saída tornava-se uma possibilidade de ocupação efetivamente digna e aprazível: ética, técnica e estética.
As densidades propostas são baixíssimas – 100 hab./ha – como deve ser numa área de mananciais e a ocupação mescla todos os usos como um fragmento de cidade: habitação, comércio, serviços e usos institucionais. Aliás, talvez desejável fosse que não houvesse ocupação alguma, mas isto já seria outra situação em outra cultura, com outro contrato social e em outra metrópole.
Dada a extensão do manancial, propusemos um piloto para um porto de areia específico na região de Capela do Socorro e outro com clubes públicos para a área do Bororé onde, dada a beleza da área e suas restrições de ocupação, propusemos imensos trapiches sobre as águas com dimensionamentos generosos (cada segmento tem em média 100 m de comprimento por 5 m de largura) criando uma espécie de malha sobre as águas para desfrute de atividades de lazer náuticas e correlatas.